
Cerca de metade dos utilizadores de Internet na RAEM já utilizam inteligência artificial (IA) generativa. Além disso, a maioria dos internautas considera que a Internet é segura, mas os autores alertam para os potenciais riscos do uso da IA para defraudar utilizadores
PEDRO MILHEIRÃO
Quase metade dos residentes (45%) e dos internautas (49%) de Macau utilizam inteligência artificial (IA) generativa, indica um relatório sobre o uso da Internet na RAEM. De acordo com a Associação de Estudo Internet de Macau (MAIR, na sigla inglesa), a percentagem de cibernautas que utilizavam IA generativa era de apenas 27% em 2024 e 17% em 2023. Essa tecnologia “está a entrar num período de rápida expansão em Macau”, pode ler-se no relatório do estudo sobre “Tendências da utilização da Internet em Macau em 2025”.
As ferramentas mais utilizadas pelos cibernautas da RAEM são o “DeepSeek”, com uma taxa de utilização de 67%, seguido do “ChatGPT” (47%), “Poe” (20%), “Doubao (13%) e Kimi (7%). A frequência de uso de IA generativa mais comum entre os utilizadores do território é de “uma ou várias vezes por semana” (37%), seguindo-se “uma ou várias vezes por mês (21%), “uma vez a cada poucos meses (18%) e “uma ou várias vezes por dia (15%).
O grupo de investigação incluiu Angus Cheong, Athena Seng, Jing Li, Wandy Mak, Candy Fong, Karen U e Huina Xiao. Para o estudo, foram inquiridos 1.213 residentes, com idades compreendidas entre os seis e os 84 anos.
Segundo os inquiridos, o principal motivo para usarem ferramentas de IA generativa é “procurar informações e responder a perguntas”. Por outro lado, as taxas de uso para outros tipos de funções são ainda relativamente baixas. Para os investigadores, isto reflecte que o uso das ferramentas ainda se encontra numa “fase de teste e uso superficial”, apesar da popularização crescente da tecnologia.
Os principais utilizadores são geralmente “estudantes, indivíduos altamente instruídos e grupos jovens”. Por outro lado, a taxa de uso entre pessoas com 55 anos ou mais, donas de casa e reformados está abaixo da média, o que demonstra “barreiras significativas” na adopção e uso da tecnologia.
Os autores argumentam que o “rápido desenvolvimento da tecnologia” está a remodelar o “cenário industrial global e o ecossistema de inovação” e demonstra um “forte potencial para promover o desenvolvimento da economia digital”. Para isso, o Governo deve “explorar activamente cenários para a aplicação de IA em áreas como educação e saúde”, transformar a tecnologia numa “infra-estrutura diária” e permitir que esta “beneficie mais residentes”.
“Devido às mudanças nos padrões de trabalho e no mercado de trabalho trazidas pela IA Generativa, o governo também precisa de estar atento ao potencial impacto das novas tecnologias na estrutura de emprego de Macau, planeando proactivamente um sistema de formação de competências laborais para aumentar a competitividade dos residentes no mercado de trabalho”, sugerem.
Para os investigadores, “é essencial manter o equilíbrio entre o desenvolvimento tecnológico e o cuidado humanístico. Através da interacção positiva entre a orientação governamental, o apoio académico e a prática empresarial, garantir que as conquistas da inovação em IA beneficiam a ampla população de residentes de Macau, criando um ciclo virtuoso em que o progresso tecnológico e a criação de valor social se complementam”.
Melhorias na segurança e privacidade
Em termos de segurança e privacidade, 61% dos utilizadores consideram que a Internet de Macau é segura. Por outro lado, 38% relataram ter tido problemas online relacionados com a sua privacidade ou segurança, que incluem detecção de vírus nos dispositivos, contas ou palavras-passe roubadas, burlas e violações de privacidade.
Contudo, os dados sugerem que houve uma melhoria, em termos de medidas de protecção ou sensibilização por parte dos utilizadores, uma vez que, no ano passado, 49% indicaram ter experienciado este tipo de situações.
A proporção de utilizadores que foram vítimas de golpes online caiu de 31%, em 2024, para 15% este ano. Os autores do estudo atribuem esta queda a “campanhas antifraude e intercepção técnica de organizações relevantes”. Os tipos de problemas online que os utilizadores enfrentam também variam consoante os grupos demográficos a que pertencem.
Indivíduos altamente instruídos e empregados são mais propensos a enfrentar problemas de segurança do que indivíduos mais jovens e com menores níveis de educação. Os investigadores sugerem que este fenómeno se deve ao facto destes últimos terem um uso mais limitado da Internet, o que os torna menos susceptíveis a identificar riscos ou problemas.
Contudo, os autores alertam que as ameaças à cibersegurança estão cada vez mais diversificadas e dissimuladas. As infecções de dispositivos e o roubo de contas em Macau “continuam a ser problemas proeminentes”. O uso de IA generativa para “imitar realisticamente as aparências e vozes de indivíduos específicos”, chamados de ‘deepfakes’, ou usar a tecnologia para defraudar utilizadores são outros problemas que exigem atenção, defendem.
Realizar palestras na televisão, e ao vivo, focadas na “identificação de links de ‘phishing’, chamadas falsas e fraudes de ‘deepfake’” e emitir alertas públicos são algumas das recomendações listadas no estudo que o Governo deve considerar.
No mesmo sentido, as empresas precisam de implementar e organizar regularmente treinos de segurança cibernética para os seus funcionários. Centros comunitários e associações de idosos poderiam também realizar iniciativas no sentido de aumentar a literacia e a segurança digital dos mais velhos, garantindo uma Internet inclusiva e segura para todos.
WeChat lidera nas redes sociais
A taxa de utilização de redes sociais na RAEM é de 99% entre os internautas, um valor que se tem mantido estável em anos recentes e que mostra que “as redes sociais se tornaram uma parte indispensável da vida quotidiana dos residentes”.
Entre as diferentes plataformas, o “WeChat” destaca-se com uma taxa de penetração de 90%. Para alguns grupos demográficos, o valor é ainda maior, sendo que esta rede se tornou na “principal ferramenta de comunicação em todas as faixas etárias. É inclusive a plataforma mais utilizada entre pessoas com 55 anos ou mais.
O “YouTube” ocupa o segundo lugar, utilizado por 74% dos residentes e 80% dos utilizadores de Internet, o que significa que é a plataforma de vídeo mais popular em Macau. As crianças são o grupo com a taxa de uso mais alta.
Seguem-se o “WhatsApp” e o “Facebook”, ambos utilizados por dois terços dos utilizadores. Estas duas plataformas são mais populares entre jovens e adultos de meia-idade, altamente instruídos e empregados. Adultos até aos 34 anos e com maiores níveis de educação preferem redes como o “Instagram”, usada por 53% dos cibernautas, ou o “TikTok” (43%). Por sua vez, a plataforma “Xiaohongshu” (51%) é mais popular entre mulheres dos 18 aos 54 anos e com elevados níveis de educação.
Manter contacto com outros continua a ser a principal função das redes sociais, seguida do entretenimento e da pesquisa de informação. Os utilizadores de redes sociais da RAEM usam as várias plataformas para comunicar com os amigos (48%), visualizar ‘streams’ ou vídeos em directo (35%) e procurar informações que não sejam notícias (27%).
Fora das redes sociais, e de uma forma geral, o lazer e o entretenimento constituem a principal razão de uso da Internet para 87% dos utilizadores, 32% usam-na para aceder a informação e 28% para comunicar com outros.